Saturday, June 1, 2019

Tentativa de Pesquisa na Manifestação do dia 26/05/2019

No 22/05/2019, vi postagem no Facebook da professora Mara Telles convidando voluntários para participação na aplicação, em Belo Horizonte, de questionários na manifestação que ocorreria no dia 26 e perguntei a ela se não poderíamos aplicar o mesmo questionário em Fortaleza para podermos comparar o perfil dos manifestantes das duas cidades. Ela me informou que a pesquisa seria realizada em parceria entre a Agência PRESS e o grupo de pesquisa coordenado por ela e nos autorizou a participar.

Eu fiz convite semelhante em grupo fechado do curso de graduação em ciências sociais e marquei uma reunião de treinamento para sexta-feira, às 16h. Para garantir uniformidade na metodologia de aplicação dos questionários, contamos com a participação de integrantes do grupo de pesquisas coordenado pela professora Mara Telles na reunião. Vinte e três alunos participaram do treinamento.

Nosso objetivo era traçar um perfil dos manifestantes. O questionário continha, entre outras, várias perguntas e afirmações baseadas em postagens de grupos de apoiadores de Jair Bolsonaro. A aplicação bem sucedida do questionário permitiria saber quais dessas afirmações têm maior apoio e quais têm apoio apenas em alguns segmentos dos manifestantes.

Nossa estratégia foi nos dividirmos em dois grupos. Um primeiro grupo de seis alunos, sob minha coordenação, foi para a concentração da carreata que sairia da Avenida Pontes Vieira. Quando os manifestantes começaram a chegar, os pesquisadores iniciaram seu trabalho de se aproximar dos manifestantes e perguntar se concordavam em ser entrevistados. Quando algumas pessoas que pareciam ser organizadoras do evento perceberam que estavam ocorrendo entrevistas, elas se aproximaram dos entrevistados e os orientaram a não concederem entrevista porque nosso objetivo seria deturpar suas palavras. Alguns manifestantes seguiram as orientações das suas lideranças e se recusaram a ser entrevistados, mas outros queriam dizer o que pensavam. A minha estratégia nesse momento foi me posicionar entre as lideranças e as pessoas em situação de entrevista para que o encarregado de esclarecer o propósito da pesquisa às lideranças fosse eu, ficando os entrevistadores livres para continuar seu trabalho.

Devido à parceria com a Agência PRESS, e por já antecipar que não seríamos bem-vindos, optamos por nos apresentar em nome da Agência PRESS, organização para a qual, de fato, estávamos trabalhando pois os dados que coletássemos seriam da agência e não nossos. Uma das lideranças da manifestação perguntou se eu era de universidade. Eu respondi que sim. De qual? Da UFC. Qual curso? Ciências Sociais. É professor? Sim. Eles ficaram sem ter do que me acusar e minha conversa com eles se concentrou na explicação da metodologia da pesquisa: tratava-se de um questionário com perguntas fechadas e, portanto, os entrevistados iriam apenas selecionar algumas opções de resposta, não havendo o que deturpar. Não podíamos entregar uma cópia do questionário para as lideranças o avaliarem porque as respostas que as pessoas dão a questões que ouvem pela primeira vez é diferente da resposta a questões já conhecidas, etc… Enquanto eu conversava animadamente com as lideranças e posava para fotos que seriam enviadas para Brasília, um questionário foi rasgado por uma entrevistada e outro rasgou os cartões de resposta, mas, mesmo assim, os entrevistadores conseguiram completar a aplicação de 18 questionários graças à colaboração de manifestantes que queriam ter suas opiniões conhecidas e compreendidas.

Quando a carreata saiu em desfile pela cidade, fui deixar os questionários já preenchidos em casa para que fosse iniciada a digitação dos dados. Quando cheguei à Praça Portugal. A professora Monalisa Soares havia tentado usar na praça os mesmos argumentos que eu havia usado na concentração da carreata. Mas lá o número de pessoas era maior, assim como eram mais intensos e frequentes os avisos no carro de som de que um pessoal da UFC, inimigo do Bolsonaro, estava realizando uma pesquisa falsa com o objetivo de prejudicar seu ídolo. A grande maioria dos manifestantes era pacífica e estava presente com a família, avós, filhos, etc. Mas alguns mais exaltados pelo discurso inflamado emitido a partir do carro de som ameaçavam matar os infiltrados da UNE que faziam pesquisa falsa e dois manifestantes avisaram a uma entrevistadora que ela deveria sair dali se não quisesse ser estuprada. Isso deixou uma parte da equipe em pânico e a outra parte ocupada em acalmar quem estava com medo. O resultado foi que conseguimos aplicar apenas mais 28 questionários, a maioria nas ruas próximas e não na praça em si.

As figuras abaixo mostram os resultados da pesquisa que tentamos realizar no dia 26/05 durante as manifestações a favor do Governo Bolsonaro. Foram aplicados 18 questionários na concentração da carreata que saiu da Avenida Pontes Vieira e 28 questionários na Praça Portugal ou em suas proximidades.

Os resultados não são representativos da população de manifestantes e não são estatisticamente significativos porque a pesquisa foi interrompida por ameaças às pesquisadoras e aos pesquisadores. Os resultados refletem a opinião das pessoas que não ouviram a orientação das lideranças de que não concedessem entrevistas ou que, mesmo ouvindo essa orientação, insistiram que queriam e que tinham o direito de serem ouvidas.

Pelo menos uma pessoa entrevistada estava na manifestação acompanhando o cônjuge e não apoiando o Governo Bolsonaro, o que explica alguém ter votado em Haddad na questão P5.





















































































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